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Homem transforma cobertura de viaduto em moradia na região

Homem transforma cobertura de viaduto em moradia na região

Publicado em: 20 de fevereiro de 2013 às 12:41

Por cima, o barulho ininterrupto de carros e caminhões. Por baixo, o trânsito movimentado da avenida Murchid Homsi. No meio, o lugar que Francisco Vicente de Oliveira, 55 anos, transformou em porto seguro. Há cerca de um ano, a cobertura do viaduto da rodovia Washington Luís virou o teto do homem que ganha a vida como flanelinha e prefere não receber visitas. “Com você vou falar, porque já percebi que você é minha truta”, diz Francisco, após trocar as primeiras palavras com a reportagem. Ele divide o pequeno barraco feito de cobertores com quatro gatos, seus companheiros inseparáveis. No precário barraco, caixotes de madeira dão suporte para o velho colchão no piso inclinado.

Natural de Santana do Cariri, no Ceará, ele mudou-se com a mãe e os irmãos para a capital paulista em busca de melhores oportunidades de vida. Em São Paulo, conviveu por três anos com uma mulher, com quem teve dois filhos. Confessa ter se envolvido em roubos e foi preso. Ameaçado de morte, pediu para que a companheira seguisse a vida dela com os meninos. Desde então nunca mais teve notícia da família.

Chegou a Rio Preto há cerca de 10 anos com pouca mala e muitos sonhos. Tinha planos de trabalhar e reconstruir sua dignidade. Mas, a ficha criminal impediu a abertura de portas. Francisco, que já possuía um pouco de conhecimento com jardinagem, comprou algumas ferramentas e foi à luta. Saía ainda pela manhã de casa em casa em busca de trabalho e só voltava no final da noite.

Terrenos para capinar, grama para podar, ou árvores para cortar. Saía, até ter as ferramentas roubadas. Desde então, é cudiador de carros nas ruas. Francisco diz que até chegou a morar em pensões, mas foi diversas vezes furtado. “Depois disso, desanimei. Por isso, decidi morar aqui. No meu barraco tenho poucas coisas, e se alguém me roubar, não perco muito”.

Na noite de anteontem, ele teve o barraco invadido quando saiu para trabalhar. Ao retornar, encontrou um morador de rua dormindo em seu colchão. O homem ainda teria comido todos os bombons que ele havia guardado no local. Francisco conta que já recebeu diversas visitas de assistentes sociais da cidade, entretanto a única sugestão que recebeu foi a de pernoitar em um albergue noturno, onde pode ficar por apenas três noites seguidas. “Eu durmo três noites lá e depois vou pra onde?” A assessoria de imprensa da Prefeitura informou que não tinha como checar a situação do homem ontem.

Além dos gatinhos, outra paixão dele é o Palmeiras, seu time de coração. Mesmo com a pouca renda, Francisco fez questão de exibir à reportagem a camisa e a calça do clube alviverde que guarda como seu grande patrimônio. “Todas as manhãs eu olho para o céu e agradeço a Deus por mais um dia. Pela oportunidade de tentar outra vez. Sei que no momento certo ele me abrirá uma porta e eu conseguirei um lugar melhor pra viver, que nem precisa ser meu. Pode ser uma casa alugada ou uma chácara onde eu possa ser caseiro. Então poderei voltar a sonhar.”


(Joseane Teixeira – Diário da Região)

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