Jales é conhecida como importante polo produtor de uva da região Noroeste do Estado de São Paulo. Mas para diversificar o agronegócio da família, um casal de produtores da cidade resolveu investir na produção de uma fruta pouco conhecida por moradores da região: o maracujá pérola do cerrado.
Depois de investir em 20 anos de pesquisas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Distrito Federal, desenvolveu a fruta de melhoramento genético, chamada de maracujá pérola do cerrado e, há dois anos, a fruta vem sendo cultivada em Jales, pelo casal Donizete de Matos e Sônia Righi de Matos. "É difícil descrever o sabor para quem ainda não experimentou, mas posso dizer que é mais adocicado que o maracujá", disse Sônia.
"A plantação do maracujá pérola do cerrado nos surpreendeu bastante. A fruta foi muito bem aceita pelos moradores de Jales. E, agora, já comercializamos para outros municípios da região, chegando aos comerciantes do estado de Mato Grosso do Sul", comentou o produtor rural Donizete de Matos. Como também são feirantes, o casal Sônia e Donizete vendem o maracujá pérola do cerrado na feira e, segundo eles, quem experimenta aprova o sabor diferente do fruto.
Como conta o casal de produtores rurais, a fruta tem o aspecto diferente na sua casca, que não lembra em nada o maracujá conhecido como azedo ou doce. "Têm algumas pessoas que olham para a fruta e perguntam se é minimelancia, maxixe e até limão. E tem quem experimenta e acha o sabor parecido com o da gabiroba", diz Sônia.
O interesse pelo cultivo do maracujá pérola do cerrado surgiu depois que Donizete e Sônia viram, pela televisão, uma reportagem sobre a nova fruta desenvolvida pela Embrapa do Distrito Federal. "Como tenho um parente que trabalha como caminhoneiro, numa de suas viagens à Brasília, pedi para que ele comprasse as mudas para plantarmos aqui", lembra a produtora.
A intenção dos produtores rurais é diversificar as culturas agropecuárias do sítio de 10 hectares, depois que eles avaliaram que o trabalho durante 30 anos com a uva não estava proporcionando muito resultado. Sônia conta que ela e o marido gostam de trabalhar com o cultivo da uva - eles possuem cerca de 400 pés de uvas dos tipos niágara e vitória -, mas os custos com mão de obra e defensivos agrícolas são caros.
Em substituição a algumas parreiras, utilizando inclusive a mesma estrutura de madeira, Donizete e Sônia plantaram 140 pés de maracujá pérola do cerrado e estão satisfeitos com a produção, que não exige muito com o manejo. Donizete explica que precisa esperar o fruto cair do pé para fazer a colheita, que acontece praticamente o ano inteiro. Na feira, o produtor disse que comercializa por R$ 8 o quilo da fruta, mas ele lembrou que, em São Paulo, a fruta é considerada exótica, "são poucas frutas e já há notícia que lá é vendida entre R$ 70 e R$ 120 o quilo".
O casal disse ainda que colhe por dia cerca de 30 quilos do maracujá pérola do cerrado, além de não ter muito gasto com adubos e nem com defensivo agrícola. Todos os dias eles precisam colher o fruto que cai no chão, pelo fato da cor do maracujá não se modificar nem mesmo quando está maduro.
Rústico e de fácil manejo
Com um manejo simples e para agregar mais valor à produção rural de pequenos produtores, o maracujá pérola do cerrado é um fruto rústico que se adaptou bem ao clima tropical da região. De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa de Jales, Reginaldo Teodoro Souza, depois de uma longa pesquisa feita pela Embrapa Cerrados - do Distrito Federal - a variedade do maracujá, um híbrido de frutas silvestres, foi lançado em 2013.
Reginaldo disse que há bastante interesse de produtores da região de Jales para o cultivo da nova variedade de maracujá. "Acredito que por ser um manejo relativamente simples, em que o plantio é feito através de um tutor (técnica utilizada com a ajuda de alguma estrutura para escorar as plantas) e a colheita não exige muita mão de obra, o maracujá pérola do cerrado é uma boa escolha para diversificar as culturas já existentes das propriedades rurais".
Outro diferencial que o especialista da Embrapa destacou, no cultivo da nova variedade de maracujá é o fato de não apresentar problemas com doenças ou pragas. "Pelo que se verificou há bastante tolerância do fruto, que não apresentou doenças nas plantações de outros locais". O ciclo de produção do fruto, segundo Souza, também é rápido, com frutos prontos para serem colhidos após um ano ou um pouco menos.
O sucesso da descoberta da nova fruta, na opinião do especialista da Embrapa de Jales, é garantia para o sustento de muitas famílias, primeiro no Distrito Federal, onde foi feita a pesquisa, e agora para os produtores rurais do Noroeste paulista. Ainda sobre a facilidade de manejo, Reginaldo afirmou que não é necessária a polinização manual, apenas a natural da fruta. (CC)
Sabor leve e rico em fibras
O maracujá pérola do cerrado pode ser consumido naturalmente, sem a necessidade de acrescentar açúcar à sua polpa, e também pode ser utilizado para sucos, geleias e doces. "É uma fruta muito rica em fibras, solúveis e insolúveis, junto com muitos fitoquímicos", explica a nutricionista funcional, Sandra Reis.
O maracujá é uma ótima opção de fruta a ser consumida à noite, pelo motivo já tão conhecido, o de ser um relaxante e proporcionar o sono mais rapidamente, conforme a nutricionista. "Mas o que não é muito falado é sobre sua carga glicêmica baixíssima, portanto não aumenta a glicemia, principalmente em um horário que não precisamos tanto de energia".
A fruta também possui outras propriedades nutricionais importantes, como as vitaminas do complexo B, cálcio, ferro, fósforo e potássio. Outra parte que não devemos desprezar, segundo Sandra, é a parte branca que fica junto à polpa, "com fibras que auxiliam e muito o intestino".
A nutricionista destacou também que o maracujá é uma fruta que pode ser consumida integralmente. A casca do maracujá, quando transformada em farinha, pode ser utilizada também para o controle da insulina, além de auxiliar na redução do colesterol. Engolir as sementes não é prejudicial, além de aumentar o consumo de fibras, já que é nas sementes que se concentram gorduras de boa qualidade.
(Cristina Cais - Diário da Região)