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Fazenda em Nhandeara é spa para gado de carne fina

Animais têm música clássica e até pilates. Carne chega a custar R$400 o kg

Publicado em: 09 de novembro de 2020 às 11:04

Fazenda em Nhandeara é spa para gado de carne fina
Uma fazenda em Nhandeara, a apenas 70 quilômetros de Rio Preto, é a prova de que o conceito de sustentabilidade pode combinar perfeitamente com alta lucratividade. Ali o gado é tratado em ambiente climatizado e com muito mimo, incluindo música clássica, spa e pilates. O resultado? A conquista de certificação internacional por atender requisitos sustentáveis e o sucesso que permite à butique de carnes instalada na capital paulista poder vender, por exemplo, o quilo da maminha a R$ 200 e o quilo do contralé (o famoso bife ancho) a R$ 400 e, de quebra, atrair clientes grifados como os chefs Alex Atala e Paola Carosella. Apaixonado pelo trato com os animais, em tudo que diferencia a cadeia produtiva da carne bovina e da pecuária brasileira, Ricardo Sechis é o nome por trás desta iniciativa. Ele descobriu na sustentabilidade e no bem-estar animal algo improvável, à primeira vista, para quem faz negócios com gado. Ricardo cuida dos animais do plantel com carinho e mimos, desenvolve pesquisas sobre bem-estar animal e promove a interação do rebanho com o produto final - o da carne gourmet com qualidade. "Não é impressionante o cliente saber que o produto adquirido (a carne) tem todo um cuidado especial, do nascimento ao abate dos animais?", pergunta o pecuarista. Na fazenda de 260 hectares, em Nhandeara, o pecuarista possui um "spa bovino" onde recebe os animais para o confinamento, num ambiente climatizado e com a disponibilidade de música clássica, importantes métodos para que o plantel tenha o maior conforto possível. Em outra propriedade rural de Ricardo, localizada no estado do Mato Grosso do Sul, a cria e recria se iniciam com os sêmens importados da Austrália e do Japão para os cruzamentos, das raças do rebanho de carne nobre, com 25% de Angus, 50% de Waygiu e 25% de Nelore. "Através de estudos que desenvolvemos, é possível notar que o animal precisa dessa interatividade, como fazemos com as bolas de pilates, ao bom conforto dos sentidos, como o da audição. Como acontece com os seres humanos, nos animais esses sentidos são mais aguçados, por isso utilizamos a música, para que eles não quem estressados", explica Ricardo. O manejo, denominado "nada nas mãos", é outro conceito utilizado por Ricardo. Na condução dos animais, ele conta que é importante todo o lado emocional dos animais, tudo que o deixe mais dócil, sem nenhum temor com os funcionários da lida, que utilizam mais o posicionamento corporal com o rebanho. "Tudo isso, uma referência para quando o animal chegar ao frigorífico, que seja de conforto", diz. Ricardo não é adepto da precocidade do animal para o abate, que ocorre em média, aos 24 meses de idade, com peso médio de 450 kg. "Com o tempo, o animal fica mais bem cuidado", garante o pecuarista, que também desenvolveu um sistema de maior conforto para o transporte dos animais até o frigorífico. Mais uma vez, a música, agora inspirada no berrante - o mesmo som ouvido durante as refeições -, que, segundo o pecuarista, remete à ancestralidade das fazendas, se faz presente, com o acompanhamento de um funcionário para que a boiada sinta-se o mais confortável possível no trajeto para o abate. Alimentação balanceada Todo o trabalho realizado para minimizar o estresse causado ao animal, na pecuária de corte, interfere na melhor produtividade do rebanho bovino, segundo a médica veterinária Gabriela de Souza Sartori, responsável pelos animais da fazenda. "No confinamento, os animais têm em local climatizado, recebem água limpa e de excelente qualidade. Há ainda a interação com as bolas do spa e com sacos de areia (semelhantes aos utilizados por lutadores de boxe), onde podem se coçar e brincar." Animais mais dóceis, com bom condicionamento físico e alimentar, são levados ainda a não sentir medo do homem, durante o manejo. Gabriela explica que todos estes fatores implicam na melhor qualidade do rebanho. Em consequência, a alimentação de qualidade oferecida interfere na boa qualidade da carne. Na alimentação dos animais, Ricardo abriu a porteira da fazenda de Nhandeara para a pesquisa, realizada pelo departamento de Engenharia de Alimentos da Unesp, de Rio Preto, investindo na dieta a base da soja em grão. "Acredito na performance do boi atleta, com uma dieta balanceada, que inclui ainda sementes de girassol e de linhaça", diz Ricardo. As refeições do cardápio bovino seguem durante vários períodos do dia, imprescindíveis para proporcionar maciez e o marmoreio nos cortes especiais disponibilizados ao mercado consumidor.



Certificação internacional

Nascido em Nhandeara, Ricardo Sechis é engenheiro eletricista de formação, mas sempre apreciou a pecuária. Ainda muito jovem, trabalhou como açougueiro, o que lhe permitiu um conhecimento sobre os cortes bovinos. A pecuária surgiu na sua vida em 1988, e até hoje ele busca sempre a inovação. Uma de suas marcas é sustentabilidade no manejo das propriedades que administra, conceito que se destaca na Beef Passion, "butique" instalada no bairro paulistano de Vila Buarque, onde as carnes nobres são as estrelas. Em 2015, Ricardo recebeu a certificação da Rainforest Alliance, o reconhecimento internacional da produção de carne 100% sustentável. "Na época, nós fomos a primeira marca de carne bovina do mundo a receber esta certificação", conta ele, ao se declarar feliz por ser pioneiro da avaliação de sustentabilidade da Organização Não Governamental americana. Normas rigorosas exigidas pela ONG incluem mais de 140 itens para a garantia de carne bovina 100% sustentável. "O nível de exigência é alto, em questões ambientais, como de não ter desmatamento, além de aspectos sociais e trabalhistas", arma. Isso inclui desde as instalações de moradia dos funcionários, que precisam ser iguais para todos, os filhos devem ser matriculados na escola e o lixo precisa ser reciclado. (CC) Cortes atraem chefs grifados O manejo no campo, garantia de bem-estar e conforto ao rebanho bovino do pecuarista Ricardo Sechis, repetiu significativamente na criação da marca própria de carnes da família. Em 2010, o pecuarista investiu na marca Beef Passion, e na instalação de duas lojas- uma em São Paulo e outra em Brasília, no Distrito Federal. Chefs renomados da gastronomia brasileira, como Alex Atala, Paola Carosella, Helena Rizzo e Roberta Sudbrack, desfrutam dos cortes "premium" da Beef Passion. "Oferecer carne de qualidade, com o consumidor se sentindo orgulhoso de conhecer nosso produto, sustentável, é a nossa proposta", diz Ricardo. Com mais de 70 cortes nobres, a Beef Passion tem preços altos, como o quilo da maminha a R$ 200 e do quilo do contralé (bife ancho) a R$ 400. Mas para Ricardo, é só uma questão de conceito, já que a marca é distribuída nas principais capitais do país. "E no conceito do chef Alex Atala, o nosso produto é de qualidade inigualável", destaca o pecuarista.




(Cristina Cais – Diário da Região)


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