A cartorária S.R. se apresentou ontem de maneira espontânea ao delegado titular do 1º Distrito Policial, Domingos José Marcos, e negou ter falsificado a assinatura do juiz da 4ª Vara Cível, Paulo Sérgio Romero Vicente Rodrigues, para liberar R$ 34,3 mil em processo envolvendo a sua enteada. Em entrevista ao Diário, ela disse ser alvo de suposta armação no Fórum, já que assumiu o cargo de assessora do juiz - responsável por elaborar exclusivamente minutas de sentenças.
A cartorária admitiu ao delegado que tem rixa com alguns funcionários do cartório. Ao saber da falsificação da assinatura de Rodrigues em despacho ela comentou: “Pra mim se estivesse tomando conta do cartório e chegassem com essa assinatura e falassem ‘entregue todos os objetos de valor’ eu entregava, com essa assinatura que você está vendo aqui (mostrando a assinatura falsa do juiz).”
Com base na assinatura falsa constatada pelo Instituto de Criminalística (IC), ela afirmou que existe “um problema grave” no 4º Vara Cível. “Então eu acho que há um problema grave lá porque eu acho que existem muitos despachos com assinatura que não são do doutor Paulo (Rodrigues)”, disse a cartorária.
De acordo com o juiz, a irregularidade foi descoberta em julho deste ano quando ele estavam em féria. S.R. afirmou que também não estava trabalhando neste período, já que ficou afastada por passar por uma cirurgia e, posteriormente, por compensação de horas. Pelas suas contas, a cartorária afirmou que deveria ter retornado ao trabalho nesta semana.
“A questão não é minha enteada.
Mas a questão é prejudicar a minha pessoa. Mas não tem como ligar uma coisa a outra. Desafio um perito dizer que essa assinatura é minha”, afirmou a cartorária. Ao delegado, ela negou ter assinado o documento em nome do juiz. “Quanto a assinatura (falsa) eu não sei. Minha não é. Posso te afirmar com veemência”, disse.
CiúmesS.R. disse que não queria ter ido trabalhar na 4ª Vara Cível por conta do escândalo envolvendo a exoneração do ex-juiz Júlio César Cuginotti. “Não queria ir para a 4ª Vara. Fui primeiro designada para a Fazenda. Não queria ir para a 4ª Vara por causa da fama do Cuginotti, que eu não conhecia”, afirmou.
A cartorária acusou ainda um suposto “ciúmes” envolvendo funcionários e o juiz. “A chefia tem ciúmes do juiz. Todos querem se dar bem com o juiz e falar que tem um bom relacionamento. Acreditavam que eu estava ali de madame. Comentaram comigo o que eu fazia com o meu dinheiro, se gastava com cabeleireiro. Que eu trabalhava por hobby”, disse S.R., que afirmou ter sido pega de surpresa com a nomeação do cargo de assessora do juiz, o que estaria gerando o “ciúmes” nos outros cartorários.
Rodrigo Lima
Assinatura falsificada de juiz é muito real, afirma cartorária
Delegado agenda novos depoimentosO delegado do 1º Distrito Policial, Domingos José Marcos, marcou para a próxima semana os depoimentos de quatro funcionários do Fórum de Rio Preto. “Todos os funcionários do cartórios serão ouvidos”, disse Domingos. O documento com a assinatura falsa do juiz da 4ª Vara Cível, Paulo Sérgio Romero Rodrigues, seria usado para expedir guia judicial no valor de R$ 34,3 mil em ação de execução contra o banco Itaú. S.R. afirmou que a acusação contra ela “não vai ficar assim.”
A cartorária insinuou que outras irregularidades ocorridas no Fórum da cidade sequer são investigadas e que poderá denunciar tudo. “Coisas gravíssimas não são apuradas. Posso citar um processo meu, que a parte que mora em Cuiabá, esteve aqui (em Rio Preto) e conseguiu cópia sem o processo ter saído do cartório”, disse.
S.R. admitiu que sua vontade era pedir exoneração, mas ela disse que não fará isso. “É uma questão de honra. Quero que constate que não é minha (a assinatura falsa). Estou muito revoltada com tudo isso. Não esperava uma atitude tão medíocre, imputar uma coisa dessas a minha pessoa”, disse.
(Rodrigo Lima - Diário da Região)