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Reportagem aponta líderes do PCC em Votuporanga e Cardoso

Reportagem aponta líderes do PCC em Votuporanga e Cardoso

Publicado em: 14 de outubro de 2012 às 07:22

Chamado de “lenda” pelo governador Geraldo Alckmin, o Primeiro Comando da Capital (PCC) mantém raízes sólidas na região de Rio Preto. Nos últimos dez anos, 260 integrantes da maior facção criminosa do País, atuante dentro e fora dos presídios, foram presos pela polícia no Noroeste paulista, incluindo 19 líderes, por assassinatos decorrentes de tribunais do crime, assalto a mão armada e tráfico.

Somente nos últimos 15 dias, a polícia diz ter detido seis integrantes da facção na região, por tráfico e roubo. Mas o PCC deu o troco, e no último dia 6 resgatou um integrante do grupo preso no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Rio Preto.

Há cerca de dois meses o partido, como é chamado pelos criminosos, vive uma guerra não declarada com a polícia paulista após a morte de assaltantes pela Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), no início do ano. Acuado pela ofensiva policial, o comando do PCC teria determinado a aplicação da “cláusula 18” de seu estatuto: “Vida se paga com vida e sangue se paga com sangue”.

Para cada membro da facção morto, um policial deve ser assassinado. Neste ano, um total de 80 policiais militares morreram em todo o Estado. Mesmo assim, no início do mês Alckmin disse que “há muita lenda” sobre organizações criminosas do Estado.“A facção existe e está estruturada em todo o Estado, inclusive na região”, diz o promotor João Santa Terra Júnior, do Gaeco, braço do Ministério Público que investiga o crime organizado.

Segundo ele, a região de Rio Preto é estratégica para o PCC por integrar a denominada “rota caipira” do tráfico, principal fonte de renda do grupo. “Somos passagem obrigatória para a droga que a facção adquire na Bolívia e leva até a Capital”, diz o promotor.O Primeiro Comando controla boa parte do comércio de drogas na região, conforme comprovou a Polícia Federal na Operação Gravata - 43 pessoas, incluindo os irmãos Gilberto e Gilson Torres, líderes da facção em Catanduva, respondem a processo na Justiça por integrar esquema de tráfico que despejava, por mês, cerca de 30 quilos de cocaína no Noroeste paulista.

Nem as grades impedem a atuação dos chefões do PCC. Em 2004, a polícia e o Ministério Público desvenderam, por meio da Operação Desmonte, um megaesquema de tráfico e lavagem de dinheiro na região, comandado de dentro da cadeia por Jair Carlos de Souza, o Jajá, Mário Sérgio Costa, o Esquerda, Edson José da Costa, o Edinho, Marcos Roberto Ciconi e Anísio Pedro Gonçalves, o Anisião.

A movimentação financeira do grupo era tão grande que, em julho daquele ano, Jajá e Ciconi definem contas bancárias nas quais deviam ser depositadas quantias inferiores a R$ 1 milhão e acima desse valor: “Eu ia falar pra você também não fazer esses depósitos de trezentos (mil), quatrocentos, quinhentos nessa conta não, meu. (...) Tem que ser de um (R$ 1 milhão) pra cima nessa conta aí”, diz Jajá em ligação interceptada pela polícia.

Bocas de fumo

Atualmente, o PCC comanda bocas de fumo em pelo menos 11 bairros de quatro das principais cidades da região. “Temos inquéritos em andamento que investigam a presença deles em pontos de venda de droga nos bairros São Bernardo, Souza e Beija-Flor”, diz o delegado de Mirassol Éder Galavotti. Em Rio Preto, segundo a PM, a facção tem forte presença no comércio de drogas dos bairros Solo Sagrado e Santo Antonio.

Além do tráfico, o PCC se capitaliza com bingos, rifas e festas. Em março de 2008, a polícia invadiu um baile funk organizado pela facção em Mirassol para arrecadar fundos. Havia cerca de 200 pessoas na festa regada a bebida e droga, 37 delas adolescentes. Todos foram detidos.

Nem a polícia nem o Ministério Público informam quantos membros do PCC existem hoje na região. “O certo é que, quando prendemos um, outro logo assume o seu lugar”, afirma o delegado Antonio Marques do Nascimento, titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Votuporanga.

Reportagem publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo” no início do mês informa, com base em planilhas da própria facção em poder do Ministério Público, que o PCC está presente em oito cidades da região: Rio Preto, Mirassol, Catanduva, Votuporanga, Potirendaba, Olímpia, Barretos e Bebedouro.

Até ontem, a guerra entre a facção e a polícia não havia chegado à região. Mesmo assim, neste final de semana a polícia está em estado de alerta devido à saída temporária dos presos do CPP de Rio Preto.

Inteligência policial é maior arma contra PCC

A maior arma para impedir o fortalecimento do Primeiro Comando da Capital (PCC), inclusive na região, é o uso da inteligência policial, afirma o promotor João Santa Terra Júnior, que investiga o crime organizado no Noroeste paulista. “Sabemos como se estrutura a facção, e quais são suas estratégias. Mas essas informações são dominadas por poucos dentro da polícia e do Ministério Público”, diz.

“O PCC sempre tenta ganhar corpo na região, mas não consegue devido ao trabalho de investigação do Estado”, afirma Santa Terra. Apesar de menos estruturado do que em regiões mais próximas da Capital, como Campinas e baixada santista, a facção não tem dificuldade em aliciar jovens da periferia de Rio Preto, principalmente na zona norte. “Virou moda entre os adolescentes dizer que faz parte do PCC, porque dá status no bairro”, diz o promotor.

Para combater esse fenômeno, segundo ele, a Justiça tem condenado não apenas integrantes da facção, os “batizados”, como também simpatizantes. Exemplo disso, afirma Santa Terra, foi a condenação de cinco homens por promover baile funk para arrecadar dinheiro para o PCC em Mirassol, há quatro anos. O grupo acabou enquadrado por incitação ao crime, formação de quadrilha e tráfico.

É inegável o glamour que a sigla exerce nas periferias das grandes cidades paulistas, segundo o sociólogo da Unesp José dos Reis Santos Filho. “Diante da falta de perspectivas socioeconômicas e do mito do bandido como anti-herói, o jovem pobre em busca de autoafirmação é facilmente aliciado pela facção.”

Regalias

Criminoso filiado ao PCC desfruta de algumas regalias. Caso seja preso, a facção disponibiliza advogados para defendê-lo, auxilia financeiramente sua família enquanto estiver detido e oferece até meio de transporte, principalmente vans, para que os parentes possam visitá-lo. Em troca, a facção exige pagamento de mensalidade, R$ 600, e respeito estrito às normas internas da facção, como partilhar dinheiro procedente de roubos e auxiliar outros membros do partido em dificuldade.

As penas para quem descumpre as regras costumam ser severas. Nos últimos cinco anos, pelo menos quatro pessoas foram assassinadas na região por tribunais organizados pelo PCC, em que o juiz geralmente é uma liderança da sigla que, mesmo presa, comanda o julgamento por meio de celulares. Entre os mortos estão dois ladrões que deixaram de repassar à facção parte do dinheiro roubado e foram mortos a marretadas em um canavial de Guapiaçu, em novembro de 2008, e um pintor acusado de abusar sexualmente de uma criança no bairro Maria Lúcia, zona norte de Rio Preto, em agosto de 2010.

O único réu de tribunal do PCC que escapou da morte foi Willian Melo de Souza, acusado de praticar abusos sexuais em crianças da periferia de Catanduva. A polícia interceptou ligações entre os membros da facção e invadiu o cativeiro, em 2009. Cinco foram presos e posteriormente condenados por tortura e cárcere privado.

Além dos tribunais do crime, a sigla realizou dois ataques a órgãos de segurança de Rio Preto. Em 2003, dois rapazes atiraram contra a base da PM no bairro Santo Antonio. Três anos depois, durante a série de ataques do PCC, o agente penitenciário Juvenal Dela Coleta morreu após ser metralhado em frente ao Instituto Penal Agrícola (IPA).

Sigla arrecada R$ 6 mi ao mês

Maior facção criminosa do País, o PCC é comandado de dentro dos presídios paulistas e tem cerca de 1,5 mil integrantes soltos no Estado. Por mês, a facção arrecada cerca de R$ 6 milhões, de acordo com planilhas da sigla divulgadas pela “Folha de S.Paulo”. O PCC foi fundado em 31 de agosto de 1993 na Casa de Custódia de Taubaté. A ideia inicial do grupo era reagir ao massacre do Carandiru e exigir melhor tratamento aos presos.

O primeiro líder foi Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, que comandou a primeira megarrebelião nos presídios, em 2001. Com a morte dele, ainda naquele ano, assumiram o comando César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião. A liderança da dupla durou até 2002. Desde então, o líder máximo do PCC é Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. (Allan de Abreu - Diário da Região)

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