Dono de Palio é recordista com 35 multas no trânsito de Rio Preto

Um Palio ELX é o campeão de infrações de trânsito em Rio Preto. Nos últimos 12 meses, seu dono cometeu nada menos que 35 irregularidades, quase três por mês. Caso tenha recebido somente multas leves (três pontos cada), atingiu 105 pontos, ou seja, cinco vezes mais que o limite, que é de 20. Esse condutor não está sozinho em Rio Preto.

De janeiro a outubro, 3.397 pessoas atingiram 20 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A pedido do Diário, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) elaborou um ranking com os condutores de veículos emplacados em Rio Preto que mais barbarizam nas ruas. Fazem parte da lista 13 pessoas, cuja quantidade de multas individual varia de 17 a 35. São nove motoristas de veículos de passeio, três caminhoneiros (que somam 65 multas) e um motociclista. Juntos, infringiram a legislação em 287 oportunidades, média de 24 por mês, em vias de todo Estado. O segundo carro de Rio Preto mais flagrado por radares e policiais militares foi um Gol, com 33 infrações. A lista é extensa e tem um Pálio fire e um caminhão dividindo o terceiro posto, cada qual com 29.

Para evitar exposição, o Detran não divulgou nome, sexo, valor das multas e se existem outros débitos, como licenciamento. Não confirma quantos, dos 13, dirigem hoje. Nem se sabe o destino de cada carro. Mas o tenente Ederson Merighi Pinha, responsável pelo trânsito na Polícia Militar de Rio Preto, oferece pistas que ajudam entender a questão. Diz que a maioria é homem e tem idade entre 20 e 40 anos. A garçonete A.M., 49 anos, no entanto, destoa do perfil predominante. Ela tem 15 multas em seu prontuário, mas se defende. “Existe um carro, modelo KA, financiado em meu nome. O dono do carro, que não conheço, cometeu todas as irregularidades.” As infrações somam 70 pontos, isto é, três vezes mais que o suficiente para suspender a carteira. A.M. já foi notificada pela Ciretran para se defender. Enquanto tenta resolver a questão, não abre mão de dirigir, mesmo com medo de levar um gancho. “Preciso do carro para trabalhar.” O delegado-assistente da Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran), Davi Ferreira da Rocha, afirma que excesso de velocidade é a infração mais recorrente em Rio Preto.

Depois, falar ao celular enquanto dirige, avanço de sinal vermelho, estacionar em lugar irregular e dirigir sem habilitação. Rocha diz que a Ciretran não tem condição de procurar e retirar de circulação os campeões de multa. “Não temos como fazer isso.” O motorista que atinge 20 pontos é suspenso por prazo que varia de 30 dias a dois anos, depende de seu histórico no trânsito. Ele entrega a carteira na delegacia, cumpre a pena e faz um curso de reciclagem antes de voltar ao volante. 3 mil estouram pontos na CNH Nos dez primeiros meses deste ano, 3.397 pessoas atingiram 20 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em Rio Preto. A média é de 11 por dia. Pelo menos 10% não se manifestam nem ingressam com qualquer recurso. Apenas no primeiro semestre de 2012, o já complicado trânsito de Rio Preto ganhou mais 240 motoristas irregulares, justamente nessa condição. Eles não recorreram a nenhuma das três instâncias de defesa. Nem procuraram a delegacia para entregar a carteira. Se forem pegos ao volante, a situação se agrava. Primeiro, cometem infração gravíssima, que rende multa de R$ 957 e sete pontos. O veículo é guinchado para o pátio. Não é só isso. Perdem o direito de conduzir veículo por dois anos.

Aposentado L.G. faz prova em autoescola, depois de estourar o limite de pontos na carteira Motorista pode dirigir com CNH ‘estourada’ A Polícia Militar de Rio Preto não apreende o veículo nem multa o motorista que atinge 20 pontos na carteira e continua a dirigir. A regra vale para quem não teve os recursos transitados em julgado nas três instâncias de defesa. “Nesses casos, a gente só orienta a não dirigir e voltar para casa. Até porque esses motoristas ficam mais relaxados e podem dirigir perigosamente. Não podemos fazer mais nada. Essa situação não está tipificada na lei”, afirma o tenente Ederson Merighi Pinha, responsável pela fiscalização de trânsito na PM de Rio Preto. Pinha afirma que a situação se inverte quando o caso está julgado e a Ciretran emite a suspensão da carteira de motorista. Quem é pego na direção nessa circunstância comete infração gravíssima.

É multado em R$ 957 e leva sete pontos no prontuário. O veículo acaba guinchado para o pátio. A Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) afirma que só bloqueia a carteira do motorista que atinge o teto após período que varia de quatro a cinco meses. Esse tempo é necessário, segundo o delegado-assistente Davi Fereira da Rocha, para que o cidadão recorra em todas as instâncias. “Não deveria ser assim. Nos Estados Unidos, por exemplo, quem comete infração de trânsito ou se envolve em acidente é chamado para se explicar à Justiça de imediato. Às vezes, tem que pagar a multa no ato”, afirma o engenheiro José Bernardes Felex, especialista em trânsito da USP. Segundo ele, o julgamento de casos de trânsito deveria ser mais ágil, embora considere a legislação rígida e adequada às necessidades brasileiras. Para Félex, o bom motorista normalmente não comete infração. Quando acontece, aceita a punição e entrega a carteira para a delegacia responsável. “Não fica recorrendo quando não tem razão. S

e dirigir com o documento suspenso e se envolver em acidente, sua situação será agravada na Justiça.” Na opinião do especialista, a autoridade de trânsito não tem condição para buscar o infrator em casa. “É pego quando se envolve em acidentes ou para em fiscalizações de rua. O mais grave é que esses motoristas que cometem infração rotineiramente dirigem sem qualquer responsabilidade.” O Departamento Estadual de Trânsito (Detran) informa que cumpre a legislação. Primeiro, notifica os motoristas que atingiram pontuação igual ou superior a 20 pontos, no período de 12 meses. Segundo o órgão, após ser notificado, o condutor tem direito a apresentar defesa nas diversas instâncias. Assim, a suspensão da CNH será decretada depois dos recursos tramitarem em cada instância e após a conclusão do processo administrativo instaurado pelo Detran. Motorista atinge 31 pontos O aposentado L.G., 61 anos, atingiu 31 pontos na carteira de motorista, sobretudo por avanço de sinal vermelho e excesso de velocidade. Recebeu como punição: um mês sem dirigir. Agora, se prepara para a reciclagem. Motorista há 43 anos, o aposentado jamais passou por situação similar. Ele mora com outros idosos e está preocupado com o transporte da família no período. Já tem até tática definida. “Vamos chamar táxi.” O aposentado já entregou a habilitação na Ciretran. Diz que jamais passou por sua cabeça a possibilidade de continuar na direção do veículo, mesmo sem autorização. “Não existe outra maneira para resolver a questão. Sou um bom motorista. É a primeira e última vez que vou passar por isso.” A.C.M., 58 anos, está na mesma situação que o aposentado. Vai ficar os próximos 30 dias sem pegar o veículo. Ele já procurou um centro de formação de condutores para iniciar o curso de reciclagem. Terá, de forma obrigatória, que reorganizar a rotina da família. “Não existe outro jeito. Vou cumprir a determinação.” As multas foram recebidas por ele e o pai, de 86 anos. O problema é que perdeu o prazo para transferir as infrações. (Raul Marques - Diário da Região)