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Morto é enterrado duas vezes por engano em cemitério da região

Morto é enterrado duas vezes por engano em cemitério da região

Publicado em: 07 de novembro de 2012 às 08:25

“O mais triste desta história toda é ter que reviver esse momento tão angustiante da minha vida. Perder o pai já não é fácil, enterrá-lo é muito difícil. Agora, exumar o corpo e viver tudo aquilo de novo é muito pior. Jamais imaginei que isso pudesse acontecer”, afirma Maria Cristina Camargo Magalhães, filha do agente penitenciário João Camargo. Enterrado no túmulo da família Rossetti, na Vila Ercília, em Rio Preto, por engano, ele foi exumado ontem e transferido para o local correto. Uma sindicância será aberta para apontar a responsabilidade sobre o erro. As duas famílias afirmam que vão entrar na Justiça contra a Prefeitura. O erro foi percebido por Tereza Rossetti, nora de Antonino Alfredo Rossetti (enterrado em 7 de fevereiro de 1984) e Maria Lopes Cançado Rossetti (morta em 4 de outubro de 1965). “No Dia de Finados, eu vi que havia o nome e a foto de outra pessoa, então arranquei a placa do local e levei até a administração do cemitério. Chegando lá, eles verificaram os nomes e afirmaram que o túmulo de João era o 624, próximo ao túmulo dos meus sogros, 627, porém, lá não há marcas de que tenha sido enterrado alguém recentemente”, afirma Tereza. E Tereza estava certa. O túmulo de seus sogros foi aberto sem autorização da família e o corpo deJoão Camargo foi colocado no local. O agente penitenciário morreu em 11 de maio de 2008. A certeza do erro veio à tona ontem, quando o secretário de administração da Prefeitura, Fábio Herédia, em reunião com representantes das duas famílias, decidiu, em comum acordo, abrir a lápide para verificar a data do último corpo sepultado no local. Caso fosse a mesma data da morte de Camargo, o erro estaria confirmado. Ao abrir a sepultura, descobriu-se que a data do enterro estava cravada no cimento. O corpo de João Camargo foi retirado e sepultado novamente, porém, no túmulo correto, ao lado. Maria Cristina acompanhou todos os passos dos coveiros em meio à lágrimas. “Pai, desculpa, você não merecia passar por isso, me desculpa, eu não queria passar por esse momento. Perdão pai, perdão mesmo”, chorava a filha ao ver os coveiros retirando os restos mortais do pai. Maria Cristina conta que o pai morreu na mesa de cirurgia quando foi operar de um problema cardíaco. “Ele era um homem muito bom, trabalhou muitos anos como agente penitenciário no antigo IPA. Essa situação é horrível, muito humilhante, jamais imaginei passar por isso. Minha mãe nem está sabendo, ela tem Alzheimer, quero poupá-la desse sofrimento”. A filha conta ainda que o pai morreu no Dia das Mães de 2008. “Foi muito sofrido aquele dia. Nunca imaginei que pudesse estar trocada a sepultura. O último enterro da família aconteceu em 1984, eu tinha apenas 15 anos. No dia do enterro do meu pai, ninguém desconfiou que não era esse local certo. Acreditamos na administração do cemitério”, explica Maria Cristina. O momento também foi dramático para Tereza ao ver a abertura do túmulo. “Olha só que sofrimento eles nos fizeram passar. Isso é um absurdo, como pode acontecer um erro desses no cemitério? Assim como aconteceu comigo, deve acontecer com mais pessoas. É muita desorganização”, reclama. O secretário de administração Fábio Herédia, que acompanhou todo o processo de exumação e precisou consolar por vários momentos os familiares, disse que vai instaurar uma sindicância para apurar de quem foi o erro e, depois, ver o que pode ser feito. “Não posso falar nada neste momento. O mais importante é que o problema já foi resolvido. Vamos agora esclarecer o que aconteceu para que não se repita”, disse Herédia. Tanto a filha de Camargo quando a nora de Rossetti afirmaram que vão entrar com processo de indenização por danos morais contra a Prefeitura. “Eu não vou deixar impune este caso. O sofrimento que passei não é fácil. E outra, a indenização também serve para que a Prefeitura fique mais atenta e não cometa mais esse tipo de erro”, afirmou Tereza. Maria Cristina disse que vai procurar logo um advogado para lhe representar na Justiça. “Foi uma humilhação o que passamos. Meu pai não merecia passar por isso e nem eu”, conclui. Assim que saiu do cemitério, a nora de Rossetti registrou boletim de ocorrência no 1º Distrito Policial. A delegada assistente, Márcia Broisler Ferreira da Silva, que atendeu a ocorrência, registrou o caso como de preservação de direitos. A exumação A lei municipal 5.466, de 7 de março de 1994, diz que os corpos enterrados nos cemitérios de Rio Preto só podem ser abertos depois de três anos do último enterro. Nesse caso, os restos mortais são reacomodados em saco plástico, no mesmo local. Antes desse período, o jazigo só pode ser aberto através de uma ordem judicial, policial ou sanitária. Já nas valas comuns, o tempo para abertura é o mesmo, porém, os restos mortais são transferidos para o ossário comum ou para gavetas sobrepostas em mural, possibilitando nova sepultura. Neste caso, a Prefeitura deve publicar em edital, por 90 dias, informando a transferência. Os indigentes, assim como os restos mortais provenientes de hospital ou escola de medicina, são enterrados nos cemitérios distritais de Engenheiro Schmitt e Talhado. (Victor Augusto - Diário da Região)

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