A região de Rio Preto concentra o maior número de cidades paulistas com registro de procura por atendimento na saúde pública contra o vício do crack. Estudo feito pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack da Assembleia Legislativa aponta que dos 59 municípios onde a busca pelo tratamento está mais presente, 19 (ou 32%) são da região administrativa de Rio Preto.
De acordo com a pesquisa, o crack leva mais vítimas a pedir socorro em cidades como Mirassol, Ibirá, Novo Horizonte, Monte Aprazível, Santa Adélia, Urânia, Tanabi, Nova Granada, Jales, Santa Albertina, Icém, Palmeira d‘Oeste, Tabapuã, Riolândia, Magda, Marapoama, Nipoã, Guarani D’Oeste e Marinópolis.
No que se refere à faixa etária dos usuários de crack que procuraram o sistema público no ano passado para tratamento, nota-se que, em média, 6% dos atendimentos envolvem menores com até 13 anos de idade. Esse percentual sobe para 11% em cidades de 5 mil a 100 mil habitantes. Nas declarações dadas pelos municípios que responderam a pesquisa, numa escala de um a seis o álcool ocupa o segundo lugar no ranking de drogas mais consumidas nas 19 cidades. Em seguida está a cocaína.
Uma das mais preocupantes constatações feitas pelo estudo é a que está diminuindo a faixa etária de dependentes em crack. Em 2010, a média de idade era de 14 anos. Em 2011, caiu para 13. Também há registros de consumo de crack no campo, por parte dos trabalhadores rurais.
Droga e crimePedro (nome fictício) tem apenas 16 anos e durante 5 anos foi viciado em crack e maconha. Há dois meses ele está tentando largar o vício que o levou para a vida do crime. No mês passado o jovem foi apreendido em Novo Horizonte por tráfico de drogas, encaminhado para o regime de liberdade assistida da Fundação Casa, e depois de abandonar o regime foi internado na instituição. Permaneceu mais um mês até ser encaminhado para a Comunidade Só Por Hoje, em Potirendaba, onde faz o tratamento contra a dependência química.
“A falta de opção e as péssimas companhias me fizeram entrar nesse mundo. Tenho certeza que vou sair dessa”, afirma o garoto. Onde Pedro está internado, outros três jovens também são acompanhados. Todos são de Novo Horizonte, cidade que mantém convênio com a ONG Só Por Hoje. Os adolescentes iniciaram o uso do entorpecente bem cedo, ainda na infância. Lá, eles recebem apoio psicológico e orientação profissional para que deixem o vício.
Segundo o ex-deputado estadual e relator da Frente Parlamentar Orlando Bolçone, o objetivo da pesquisa foi mapear a realidade do crack no Estado para melhorar a integração das políticas públicas dos governos federal, estadual e municipal. Bolçone afirma que já está em estudo pela Secretaria Estadual de Saúde a criação de novos leitos hospitalares em Tanabi e Nova Granada.
“Somente um trabalho contínuo de combate ao tráfico e auxílio aos dependentes poderá trazer resultados na luta contra o crack”, disse o ex-deputado. Fora da lista dos municípios mais assombrados pela droga, Votuporanga foi a cidade que mais investiu em tratamento para viciados em 2011, segundo o levantamento. O município, que tem 85.578 habitantes, utilizou R$ 80 mil para recuperar viciados.
Cidades dizem ter atendimentoEntre as cidades onde o crack aparece com mais procura de dependentes por tratamento do que o álcool, nove não investiram nem um real em programas de combate a droga de acordo com a pesquisa. É o caso de Palmeira D’Oeste.
A secretária de saúde do município, Maria Lúcia Serbelo, afirmou que a cidade não tem um programa específico de combate, porém estão previstos investimentos para o ano que vem. “Estamos firmando convênios com algumas comunidades terapêuticas para tratar nossos dependentes. Hoje, cerca de 200 pessoas são atendidas através do SUS”, afirma.
Em Mirassol, são atendidos 81 dependentes, 11 menores de idade. A cidade aparece na pesquisa da Frente Parlamentar com investimento zero, porém, a assessoria informou que todo o tratamento de dependência química realizado pelo SUS é custeado pelo município.
A Prefeitura de Riolândia informou que atende 15 dependentes de crack na cidade, porém não possui nenhum programa específico. Já em Riolândia os viciados são atendidos pelo Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps – AD). A cidade investiu no ano passado R$ 36 mil para tratar os dependentes. As outyras cidades listadas não responderam à reportagem.
Janaína de Paula e Victor Augusto (Diário da Região)