Crise financeira pode fechar único "hospital de loucos" da região

Uma dívida de R$ 4 milhões ameaça o tratamento dos pacientes atendidos pelo SUS no Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes. O provedor da instituição ameaça fechar 37 leitos. Os sete médicos que trabalham na instituição estão há seis meses sem receber os salários. Enfermeiros, auxiliares de enfermagem e até os funcionários do quadro administrativo ainda não receberam o 13º e nem o salário de janeiro, oito pediram demissão neste mês. O hospital atende hoje 197 pacientes do SUS e outros 49 por meio de convênios privados. De acordo com o provedor da instituição, Gracio Tomaz Saturno, no ano passado foram internadas 2.226 pessoas, uma média de 187 novos pacientes todo mês. Saturno afirma que a culpa pela dívida acumulada é do governo federal, que há três anos não reajusta os valores das diárias dos pacientes, hoje fixada em R$ 42,37. “O governo paga esse valor, mas o meu custo por paciente/dia é de R$ 80. Com isso, tenho um déficit mensal de R$ 240 mil. Se não houver um aporte de dinheiro, vamos ter que fechar esses leitos”, afirma o provedor. Saturno explica ainda que a política de saúde mental do Ministério da Saúde foi criada para acabar com os hospitais psiquiátricos do País, uma vez que foi criada uma tabela cujas diárias variam de acordo com o número de pacientes atendidos. Para instituições que atendem até 400 pacientes, o Ministério paga R$ 26 por paciente/dia. Já os hospitais que atendem até 200 pacientes recebem R$ 42,37, e os que atendem até 160 pacientes recebem R$ 49,70. “O que eles querem é estrangular os hospitais, acabar com os leitos de saúde mental no país. O gasto por paciente é o mesmo, independente do número, não tem porquê pagar menos para quem atende mais.” A ideia, diz o provedor, é reduzir o número de leitos e receber uma diária melhor remunerada. “Assim conseguiremos uma receita maior e reduziremos os custos com alimentação, folha de pagamento, etc”, diz Saturno. Para ele, essa redução vai prejudicar muita gente e vai contra o objetivo para o qual o hospital foi criado: atender pacientes sem condições financeiras. Os pacientes atendidos pelo Bezerra sofrem de esquizofrenia, depressão e outros distúrbios mentais, além dos dependentes químicos. De acordo com o psiquiatra Marco Aurélio Van Herven, que atende 40 pacientes ali internados, trata-se de um local muito importante para a cidade e também para a região, uma vez que é um dos únicos que atendem pelo SUS. “Estou trabalhando desde julho sem receber meus honorários, daqui pra frente a coisa só vai piorar. Se continuar assim os pacientes serão prejudicados”. Reunião O secretário de saúde de Rio Preto, Valter Negrelli, diz que vai se reunir na próxima semana com os diretores da Divisão Regional de Saúde e com o conselho do Bezerra de Menezes para tentar melhorar a verba hoje repassada, tanto o aporte federal como o estadual. Ainda de acordo com o secretário, o município também mudará procedimentos para tentar “colaborar mais com o hospital”. A assessoria de imprensa do Estado informou que repassou, nos últimos dois anos, verba anual de R$ 56 mil e que não há previsão para um aporte extra em 2013. (Victor Augusto - Diário da Região)