Homens se rendem ao divã para afastar angústias e desilusões
Homens se rendem ao divã para afastar angústias e desilusões
Publicado em: 05 de fevereiro de 2013 às 12:33
O tempo em que as mulheres eram as únicas a se render às sessões de terapia está acabando. Os homens estão abrindo mão do machismo e procurando profissionais que os ajudem a encontrar autoconhecimento e a lidar com os problemas da vida. Não existem estatísticas que apontem com exatidão essa mudança de comportamento, mas estima-se que ainda são discretas, embora continuamente crescentes, segundo especialistas.
O motivo é que os homens demoram mais para admitir os próprios problemas. Pedir ajuda, então, nem se fale.
Enquanto as mulheres têm facilidade para expor seus sentimentos e compartilhar com a família ou amigas o que lhes aflige, para o homem é mais difícil se “expor”. O sexo masculino, culturalmente visto como sexo forte, demora ou nem assume seus problemas, sejam eles pessoais ou profissionais, porque interpreta isso como derrota.
Os conflitos e angústias estimulados por problemas específicos revela nos homens uma sensação de incapacidade que é alimentada interiormente por eles. Um tripé formado por relação afetiva, nível de prosperidade e saúde mental é um dos principais fatores que levam os homens a procurar ajuda no meio corporativo.
Embora demorem para assumir, quando o fazem, os homens ainda querem “manter a coisa em sigilo”. Um famoso filme estrelado por Robert De Niro, em 1999, “Máfia no Divã”, é um ótimo exemplo do preconceito que os homens têm de assumir isso publicamente. O protagonista Paul Vitti, vivido pelo ator americano, começa a ter ataques de ansiedade, resultado de dificuldades de seu passado.
Sem conseguir resolver esses problemas sozinho, ele sente a necessidade de procurar ajuda profissional, mas com medo de que os membros da Família (máfia) descubram, ele faz as sessões de terapia com seu psiquiatria escondido. O receio de Paul, personagem de De Niro, é que seus companheiros pensem que ele está “frouxo” por ter buscado apoio psicológico.
Segundo o administrador de empresas e psicanalista Luiz Fernando Garcia, autor de “Empresários no Divã” (editora Gente), um homem em dificuldade acaba se isolando inconscientemente. Quando está infeliz com o relacionamento afetivo, a saúde mental é influenciada, da mesma forma que seu nível de prosperidade.
“O empreendedor sente aumentar o conflito dele com ele mesmo e passa a buscar soluções externas, como, por exemplo, o álcool e o sexo fora do casamento. Paralelamente a isso, muitas vezes, ele passa por um autoboicote, ou seja, começa a tomar inciativas precipitadas e erra mais do que deveria na gestão dos negócios, complicando a situação financeira.”
Há grandes diferenças entre homens e mulheres nessa interpretação da vida e como encará-la, devido, principalmente, a aspectos sociais, culturais e psicológicos. São eles que estabelecem as referências, que podem ser biológicas, de reprodução, divisão sexual do trabalho, comportamento, modos de pensar.
São aspectos que se desenvolvem aos poucos, durante o crescimento, e que vão interferir diretamente no campo profissional, por exemplo. “Enquanto o homem, ao conduzir os negócios, faz apenas uma recomendação, mas já com a decisão tomada, a mulher procura discuti-la com os demais antes de fechar algo, pois acha importante que todos se sintam integrantes desse processo. A prioridade da mulher nos negócios é o relacionamento e o desenvolvimento, enquanto a do homem é a conquista”, afirma Garcia.
em medo de quebrar tabus
Quando o homem passa por um problema, os sentimentos de ameaça, reclusão e incompreensão também são comuns. O foco acaba sendo o trabalho, como uma ‘única vida’, diz o administrador de empresas e psicanalista Luiz Fernando Garcia, tornando vínculos apenas administrativos, tanto no próprio ambiente do lar e, principalmente, no corporativo.
“As amizades vão se extinguindo, a quantidade de tarefas vai aumentando, a pressão se torna insustentável e, quando o desconforto é demais, eles acabam buscando a psicoterapia”, conta Garcia. É importante destacar, contudo, que os problemas que os homens chegam a colocar em discussão durante uma sessão de terapia não serão resolvidos em um passe de mágica, de forma rápida e sem esforço.
No livro “Empresários no Divã” (editora Gente), Garcia expõe que, “para melhorar sua empresa, melhore você”, pois é o que torna possível compreender a própria mente e ter um desenvolvimento e desempenho melhor na vida profissional e pessoal. “O ambiente terapêutico se torna extremamente útil, pois, ao trocar ‘feedback’ e revisitar seu passado, o homem se reconstrói de dentro para fora”, explica o administrador de empresas e psicanalista.
O resultado de não ter medo de quebrar tabus é compreender a si mesmo, saber identificar pontos cruciais de um problema e adotar novas atitudes, novos comportamentos e pensamentos.
Homens também sofrem com irrealização amorosa
Psicanalista e autora de livros de relacionamento amoroso e sexual, sendo o mais recente “O Livro do Amor” (editora Best-Seller), Regina Navarro Lins, de São Paulo, diz que, assim como a mulher, o homem também sofre com a irrealização do amor romântico, sobre o culto do corpo perfeito, e que o sexo masculino não se intimida com a mulher independente financeiramente, mas sim com aquela que sente-se autônoma da própria vida.
(Elen Valereto - Diário da Região)
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