Justiça bloqueia R$ 300 milhões de empresa da região suspeita de pirâmide
Justiça bloqueia R$ 300 milhões de empresa da região suspeita de pirâmide
Publicado em: 12 de julho de 2013 às 14:27
A Justiça Federal bloqueou R$ 300 milhões e automóveis avaliados em um total de R$ 30 milhões da empresa rio-pretense Embrasystem. A empresa é mantenedora da BBom e Unepxmil, acusadas de “pirâmide financeira” disfarçada na venda de rastreadores para automóveis. Proibida no País, a prática é considerada crime contra a economia popular.
Entre os carros bloqueados estão duas Ferraris, oito Mercedes, um Rolls Royce e quatro Lamborghinis, que a empresa ainda pode usar, mas não comercializar. No total, são pouco mais de cem automóveis que estavam no nome da empresa e do fundador do negócio, o rio-pretense João Francisco de Paulo. Os veículos seriam utilizados para premiar quem mais indicasse novos associados.
A BBom, que mantém seu escritório de monitoramento em Rio Preto e sua central comercial em Indaiatuba, oferece aos clientes três tipos de pacotes: o bronze (R$ 600), o prata (R$ 1,8 mil) e o ouro (R$ 3 mil), referente a compra de rastreadores - quatro produtos no bronze, 12 no prata e 20 no ouro. Além do valor, cada cliente tem de pagar R$ 60 de adesão e R$ 80 mensais durante 36 meses. São cerca de 300 mil associados em todo o País.
Com a adesão, o associado recebe um valor que seria do aluguel dos rastreadores comprados feito pela empresa. O ganho maior, porém, está relacionado à indicação de novos membros. Quanto mais indicar, mais o associado ganha. O empresário I.L.M., 42 anos, que preferiu não se identificar, investiu R$ 600 no produto com a promessa de que teria o dinheiro restituído em oito meses.
Ele afirma que entrou no negócio porque precisava de um rastreador do carro. “Me disseram que teria muita vantagem, porque além de pagar o produto receberia uma grana extra. Agora com esse bloqueio da Justiça, temo ficar sem receber”, afirmou.
Decisão
Na decisão da Justiça Federal de Goiânia, o esquema divulgado pela empresa como “marketing multinível” foi considerado pirâmide financeira porque os participantes são remunerados pela indicação de outras pessoas ao sistema, sem levar em consideração a venda dos produtos.
“O esquema é uma ilusão de dinheiro fácil. Do meio da pirâmide para baixo quem entra só perde porque acaba não conseguindo indicar ninguém. Isso é totalmente diferente de marketing multinível, que é quando a pessoa vende produtos e ganha comissão”, explica o procurador da República Hélio Telho Corrêa Filho, um dos responsáveis pela ação. De acordo com o procurador, o bloqueio dos bens foi feito até que a ação que o MP de Goiânia move contra a empresa seja julgada. “Esses bens servirão para indenizar as pessoas que puseram dinheiro no esquema”, diz.
“Pirâmides”
Esse é o segundo caso de bloqueio de bens por parte da Justiça envolvendo acusação de crime contra a economia popular. A Justiça do Acre bloqueou a conta dos usuários empresa Telexfree sob a acusação de promover pirâmide financeira disfarçada com a venda de pacotes de telefonia pela internet.
Só na região de Rio Preto, foram bloqueados pelo menos R$ 2 milhões de 3 mil pessoas que se cadastraram como divulgadoras dos produtos. Além da Bbom e Telexfree, outras quatro empresas serão investigadas pelo mesmo crime: Multiclick, Nnex, Priples e Cidiz. A investigação será feita pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte.
Outro lado
A reportagem procurou o presidente da Embrasystem, João Francisco de Paulo, mas a assessoria de imprensa da empresa afirmou que ele não falaria com a imprensa. O diretor de marketing da BBom, Ednaldo Bispo, também não foi localizado. A assessoria de imprensa disse que ele havia viajado a negócios, portanto, não poderia dar entrevista. Em nota, a assessoria do Grupo Embrasystem, que informa ter 17 anos de atividade, afirmou que se trata de uma empresa transparente, com endereço fixo e acessível a seus associados, clientes e demais interessados.
“O marketing multinível no Brasil vive um momento de questionamento sobre a legalidade desse modelo de negócio. E nós queremos contribuir para o fortalecimento de um mercado ético, legal, moral e justo. Sempre com total transparência e respeito”, diz trecho da nota. O grupo é composto, além da Unepxmil e Bbom, por outras cinco empresas de diferentes ramos.
Festa com ‘carrão’, Rolex e Mont Blanc
Em três meses de funcionamento a movimentação financeira da Embrasystem aumentou em mil vezes, passando de R$ 300 mil para R$ 300 milhões. O crescimento meteórico ocorreu justamente após o grupo comprar a BBom e iniciar o que ela chama de “trabalho de marketing multinível”. Depois de pouco mais de 60 dias, a empresa deu uma prova do aumento no faturamento. No dia 22 de maio, a BBom realizou uma festa para 2 mil associados no HSBC em São Paulo, tendo como cerimonialista a apresentadora Ana Hickman.
Na festa, a empresa distribuiu em prêmios seis carros Mercedes, uma Larborghini, 72 relógios de luxo da marca Rolex e 400 canetas Mont Blanc, que chega a ser vendida por R$ 8,5 mil a unidade. Os produtos foram destinados aos melhores vendedores da marca. “É um mimo. No marketing multinível presenteamos as pessoas com um mimo. Trabalhamos com um multinível sustentável, que é algo que vai perdurar”, afirmou Ednaldo Bispo, diretor de marketing da empresa, ao programa de televisão Amaury Junior, em entrevista durante a festa.
A BBom possui um programa de premiação que varia de acordo com a pontuação do associado. Os pontos são conseguidos com a indicação de novos membros. Os que conseguem 100 mil pontos ganham uma caneta Mont Blanc. Já os atingem 500 mil recebem um relógio Rolex. A premiação aumenta de acordo com a pontuação. Quem chega ao nível embaixador, ou seja, 50 milhões de pontos, “ganha” uma Ferrari ou uma Lamborghini.
Para o procurador da República Hélio Telho Corrêa Filho, o crescimento acelerado e os prêmios valiosos são frutos do esquema de pirâmide. “O esquema fez ela acelerar (o crescimento). Tanto é que após 83 dias de existência a empresa realizou uma festa tão grandiosa e com um valor tão alto em premiações", diz.
(Elton Rodrigues – Diário da Região)
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