Veterinários são proibidos de cortarem rabinhos de filhotes
Veterinários são proibidos de cortarem rabinhos de filhotes
Publicado em: 05 de julho de 2013 às 08:31
A pedido do Ministério Público, o Conselho Federal de Medicina Veterinária determinou a proibição do corte da cauda de cachorros. A prática era considerada pelo órgão apenas como não recomendável. Agora, o veterinário que descumprir a norma está sujeito a processo ético-profissional, pode perder o diploma e ainda responder por crime de maus-tratos, com pena de três meses a um ano de prisão.
O corte do rabo, ou caudectomia, será permitido apenas em casos específicos como câncer ou doenças graves, em que o procedimento seja necessário e beneficie a saúde do animal. O criador ou dono do animal que fizer o procedimento por conta própria já poderia ser enquadrado no crime de maus-tratos.
A medida vai contrariar o gosto de alguns donos, dizem os especialistas. A veterinária Ana Letícia Silvares de Moraes conta que, apesar de ser contra a prática de cortar o rabo, ainda a realizava por uma “exigência de mercado”. “Os donos exigem que o rabinho esteja cortado. A partir de agora, não vou mais cortar, mas não sei como vai ser”, disse ela.
Rosimara Ribeiro Belani, funcionária de um pet shop no bairro São Manoel, diz que muitos donos dizem que o corte é por estética. “Infelizmente eles preferem mesmo os rabinhos cortados. Reclamam da estética e dizem que o rabo inteiro é ruim para a higiene do animal”, explica ela, enquanto segura nas mãos uma cachorrinha da raça yorkshire de três meses que já teve o rabinho cortado. “A gente já comprou ela assim do dono. Ele mesmo corta para revender”, disse ela.
O promotor de Justiça do Gecap (Grupo Especial de Combate aos Crimes Ambientais e de Parcelamento Irregular do Solo), Carlos Henrique Prestes Camargo, que solicitou a mudança ao Conselho, defendeu em nota pública que o corte da cauda é visto como mutilação. “A caudectomia é crime e mutilação passível de punição, sendo que o veterinário ou proprietário de canil, surpreendido realizando o procedimento, pode arcar com multas, além de responder a processo criminal”, afirmou.
O estudante Gustavo Souza, 19 anos, já concordava com a medida antes mesmo que ela se tornasse obrigatória. Ele não quis que o rabo do poodle Simba, de dois anos, fosse cortado. Cães da raça poodle estão entre os que mais passam pelo procedimento. “Não faz sentido cortar, porque é só uma imposição estética. A cauda é um membro natural do cachorro e cortar é mutilação.” O corte da cauda, segundo veterinários pode causar desequilíbrio. Além disso, a cauda é usada pelos por eles para se expressar.
A veterinária Luana Silva, que tem um pet shop em Rio Preto, se preocupa com a conduta dos donos a partir de agora. Ela acredita que as pessoas vão continuar cortando o rabo dos cães, mas buscarão cirurgias de “fundo de quintal”. “Antes já era complicado e eu sempre atendia animais que tiveram o rabo cortado de maneira inadequada por pessoas que não são veterinários e tiveram problemas por isso. Agora, vai ser ainda pior.”
O procedimento feito sem os devidos cuidados pode causar infecções na coluna. “Eu só cortava o rabo de cachorros de grande porte de até três dias e de pequenos de, no máximo cinco dias. Agora, não corto mais, mas me preocupo porque penso que as pessoas vão dar o jeito delas para que o animal tenha o rabo cortado”, disse.
O promotor Antônio Ganacin Filho, de Rio Preto, alerta para as penalidades que continuar cortando os rabos pode trazer para os veterinários e donos de petshop. “Com a nova resolução, a prática é, em tese, crime de maus-tratos aos animais, já que não é mais um procedimento regulamentado.” Desde 2008, outra decisão do Conselho já proibia a cordectomia (cirurgia que retira as cordas vocais), a conchectomia (para levantar as orelhas) e a onicectomia (extração das unhas de gatos).
(Daniela Penha – Diário da Região)
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