“Pelo quê você corre?”, pergunta o narrador no início do vídeo que põe na rua, nesta semana, a nova campanha educativa do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP). Carro-chefe da ação educativa, o filme de 30 segundos tem como foco o motociclista, em especial o motoboy ou quem dirige a sua moto para viver – e é vida o que a campanha quer preservar. “Meu corre é a minha paixão”, diz um, seguido por outro que responde, “Meu corre é para conquistar meu sonho”. Um terceiro diz que seu corre é pelo futuro. “Meu corre é pela minha família”, afirma o último. Todos são homens, e representam as maiores vítimas do trânsito no estado: de janeiro a julho deste ano, mais de 41% das mortes por sinistro de trânsito envolveram moto, e 83% dos casos, o gênero masculino.
Os dados são do Infosiga, o Sistema de Informações Gerenciais de Sinistros de Trânsito do Detran-SP, e embasam as peças que circularão pela televisão, pelo rádio, por painéis eletrônicos nas ruas, pelas redes sociais e por ambientes frequentados por motociclistas, como oficinas mecânicas, padarias, bares, restaurantes, lanchonetes e lojas de acessórios. A campanha prevê ainda ações em faixas sinalizadoras.
Além de homens, as vítimas de ocorrências envolvendo motocicletas são, na maioria, jovens. Estudo recente da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) indica que as perdas são maiores na faixa etária entre 20 e 29 anos. Dados do Infosiga confirmam o mesmo perfil de vítima no estado de São Paulo. Aqui, a faixa dos 20 aos 24 anos é a mais atingida, respondendo por cerca de 20% a 22% das mortes com motocicleta nos últimos cinco anos. De janeiro a setembro, 22% dos mortos por sinistros com moto estavam neste intervalo de idade. Em segundo lugar, vem a faixa de 25 a 29 anos, com cerca de 16% de motociclistas mortos.
“Quando pensamos nesta campanha, partimos da perspectiva de que a vulnerabilidade do motociclista no trânsito é um fator crítico, agravado pela falta de percepção dos riscos e do papel individual de cada condutor. Desenvolver essa consciência transforma o respeito às leis de trânsito de uma mera obrigação em um ato de cuidado com o outro, promovendo a preservação de vidas”, afirma Anderson Poddis, diretor de Educação para o Trânsito e Fiscalização do Detran-SP, órgão vinculado à Secretaria de Gestão e Governo Digital (SGGD).
A desobediência às leis é a grande responsável pelas mortes no trânsito. Cerca de 40% dos óbitos são causados por excesso de velocidade e 30%, por condução sob efeito de álcool. Além disso, estudos mostram que 60% dos motociclistas não utilizam equipamentos de proteção individual adequados, como capacetes.
Outro ponto levantado pelas duas bases de dados diz respeito ao horário e ao dia das fatalidades. A maior concentração ocorre no período noturno, entre 18h e 23h59, e especialmente aos finais de semana. Os estudos ainda coincidem em um dado preocupante: no aumento alarmante das mortes em sinistros envolvendo motociclistas no estado de São Paulo. Entre 2023 e 2024, o crescimento foi de pelo menos 20%. Na capital, foi ainda maior, de 30%: morreram 355 motociclistas, 45% do total de óbitos no trânsito.
"O aumento de mortes de motociclistas em todo o Brasil eno estado de São Paulo destaca a urgência de ações em escala estadual, focadas nesse grupo tão vulnerável no trânsito. Além das políticas públicas, campanhas de conscientização são fundamentais para engajar a sociedade, alertar sobre os riscos e promover mudanças de comportamento. Ficamos muito honrados em fazer parte de ações como essa, que têm o poder de salvar vidas", afirma Diogo Lemos, coordenador Executivo da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, que trabalha na campanha em parceria com o Detran-SP.
"Estamos felizes de apoiar o Detran-SP nessa primeira colaboração como parte da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global. O desenvolvimento de campanhas e estratégias de comunicação com base em dados e evidências é fundamental para alcançarmos resultados efetivos, principalmente porque buscamos mudar comportamentos de risco no trânsito, como o excesso de velocidade nesse caso, com o objetivo de salvar vidas. Essa abordagem estruturada é especialmente importante quando falamos dos motociclistas, que seguem como as principais vítimas no trânsito de São Paulo”, diz Tainá Costa, gerente de comunicação sênior da Vital Strategies.
Focos de letalidadeCom a expansão da frota de motocicletas, torna-se ainda mais urgente tratar da segurança desses condutores. Hoje, o emplacamento de novas motos supera o de automóveis em todo o país. Em 2023, o Brasil viu 1,5 milhão de novas motos entrarem em circulação.
Em São Paulo, não é diferente. Mas algumas regiões do estado pedem ainda mais atenção do que outras. É o caso das regiões metropolitana da capital e de Campinas, que lideram o triste ranking de sinistros e mortes entre motociclistas.
Entre 2022 e 2024, a Região Metropolitana de São Paulo registrou o maior número absoluto de sinistros e óbitos no modal, enquanto Campinas se destacou com a maior taxa proporcional de fatalidade, com 6,48% dos sinistros resultando em óbitos.
Região Metropolitana de São Paulo - 45.462 sinistros registrados, com 2.172 óbitos, uma taxa de fatalidade 4,78%Campinas - 18.078 sinistros registrados, com 1.171 óbitos, uma taxa de fatalidade de 6,48%Sorocaba - 8.236 sinistros registrados, com 491 óbitos, uma taxa de fatalidade de 5,96%São José dos Campos - 7.054 sinistros registrados, com 372 óbitos, uma taxa de fatalidade de 5,27%São José do Rio Preto - 7.306 sinistros registrados, com 244 óbitos, uma taxa de fatalidade de 3,34%