O funcionário da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Recicláveis de Araçatuba (Acrepom), que encontrou R$ 36 mil dentro um cofre descartado pela Polícia Civil, afirmou que levou um susto ao ver tanto dinheiro.
O caso foi registrado ontem (27). A quantia encontrada dentro de um fundo falso foi devolvida à Polícia Civil. Agora, o cofre passará por perícia.
Em entrevista ao G1, Manoel de Sá contou que foi mexer no objeto para utilizá-lo como suporte de uma pia improvisada e se deparou com o dinheiro.
“O cofre já estava aberto e todo amassado. A coordenadora pediu para pegá-lo. Eu me aproximei, chutei a tampa, que estava difícil de abrir, e vi o dinheiro separado em notas de R$ 100 e de R$ 50. Não precisei usar nenhuma ferramenta”.
Ao todo, 26 funcionários trabalham no galpão. Cada um consegue tirar por mês cerca de R$ 1,2 mil. A renda total gira em torno de R$ 30 mil a R$ 35 mil. Ou seja, a quantia encontrada dentro do cofre é basicamente o lucro que a Associação consegue obter mensalmente reciclando materiais.
No entanto, os catadores não tiveram dúvida em devolver o dinheiro. Eles retiraram as notas do cofre, fizeram a contagem e ligaram para a Polícia Civil.
“Eu estou trabalhando há três anos. Foi a primeira vez que encontrei dinheiro nos objetos. Me sinto gratificado, porque fizemos o certo em devolver a quantia”.
Ao G1, o coordenador da Central de Polícia Judiciária de Araçatuba (SP), Paulo César Cacciatore, explicou que o cofre foi encontrado depois de policiais militares receberam uma denúncia anônima informando que o objeto havia sido descartado no bairro Jussara, em Araçatuba, no ano de 2018.
“Ele estava arrebentado, destruído. Alguém furtou ou roubou, pegou o que tinha dentro, se tinha, e jogou o cofre no local. Ele foi apreendido e, na época, apresentado no 3º Distrito Policial. Deve ter sido realizada uma investigação, mas não conseguiram encontrar ocorrências que relacionassem com o cofre e com a vítima”.
Posteriormente, o cofre foi transferido para a Central de Polícia Judiciária em 2019, ano em que houve a unificação das delegacias de Araçatuba. Ele foi codificado e guardado em um depósito apropriado.
“Via de regra, não sei se é o caso, recuperamos um cofre furtado, mas a vítima não vai atrás. Elas largam e temos que ficar insistindo para buscarem. Para a delegacia, aquilo é um verdadeiro estorvo. Rotineiramente, fazemos uma análise das ocorrências e objetos apreendidos, porque não temos condições de ficar guardando coisas que não existe interesse da Justiça ou polícia”.
Paulo explica que foi realizada uma limpeza nos objetos apreendidos e que ele determinou que o cofre fosse levado para ser descartado. A decisão foi tomada depois de a polícia analisar boletins de ocorrências e não encontrar o dono.
"O valor foi apreendido. O cofre foi enviado para a perícia. Nós já começamos a tentar identificar ocorrências daquela época de furtos ou roubos, crimes contra o patrimônio, para tentarmos encontrar o dono".
O coordenador da Central de Polícia Judiciária também alegou que, particularmente, acredita que o objeto não tenha passado por perícia no ano em que foi apreendido.
“Ele já estava todo arrebentado. Se recebo uma ocorrência de um cofre, eu vou tentar encontrar a ocorrência original que pertence a um furto ou roubo, mas se eu não localizar, ele vai ficando. Eu já cuidei de casos que só faltou colocar o cofre na viatura e entregar na casa da pessoa, porque ela não vem buscar. A gente precisa limpar aos poucos os objetos apreendidos, porque é muita coisa”.
Incêndio e ajuda
Em junho deste ano, a Associação foi atingida por um incêndio que destruiu grande parte do galpão e equipamentos usados diariamente pelos catadores. Não houve registro de vítimas.
Um inquérito foi instaurado para investigar o caso. Menos de um mês depois, um laudo apontou que o incêndio foi provocado de forma criminosa.
Segundo a Polícia Civil, os peritos identificaram três focos diferentes, que não estavam interligados. O suspeito de cometer o crime ainda não foi localizado.
Por conta do ocorrido, a associada Alexandra Campos Alves, que trabalha na secretaria, contou que os catadores estão exercendo suas funções de forma improvisada.
“A produção não parou. O incêndio atingiu mais a parte de cima, onde ficavam a biblioteca, refeitório e cozinha. Estamos recebendo bastante ajuda, porque o pessoal se sensibilizou”.
Alexandra explicou que a Associação está precisando de dinheiro para consertar as máquinas que foram danificadas pelas chamas. O custo para arrumá-las é alto.
“Estamos passando por um momento complicado. Todos recebem pouco dinheiro. Lutamos muito. A quantia encontrada no cofre ajudaria demais, mas não era nossa. Ligamos para a Polícia Civil e devolvemos”.
Os R$ 36 mil vão ficar guardados em juízo. Existem detalhes na lei que permitem, ao fim da investigação, que a quantia possa ser encaminhada aos cooperados que encontraram o valor.
(Renato Pavaroino - TVTEM/G1)