A pequena Alice, de oito meses, que nasceu com uma malformação congênita na coluna chamada de mielomeningocele, foi transferida, na noite de segunda-feira (26), para o Hospital Sepaco, em São Paulo. Ela estava internada desde que nasceu no Hospital Unimed Araçatuba, onde recebia cuidados especiais.
De acordo com o hospital local, a remoção da menina ocorreu por volta das 21h, em um avião equipado com recursos de alta complexidade, que decolou do aeroporto estadual Dario Guarita e chegou em São Paulo no início da madrugada de ontem (27). Uma equipe médica do transporte aéreo acompanhou o deslocamento que, segundo o pai da menina, Agnaldo Escalambra, foi custeado pela Unimed Seguros.
A transferência de Alice ocorreu com o consentimento da equipe médica da Unimed, que encaminhou toda a documentação da paciente para o hospital da Capital.
Conforme a assessoria de imprensa do Hospital Sepaco, a internação da menina é custeada pelo seguro de saúde e uma equipe médica avaliará e realizará uma série de exames na criança, antes de ser marcada a cirurgia.
Segundo o pai de Alice, a vaga em São Paulo foi conseguida com apoio da equipe médica da Unimed Araçatuba e o auxílio do diretor-superintendente da Unimed Birigui, o médico anestesista Cleudson Garcia Montali. "Graças a Deus e a esse especialista, minha filha pôde ser encaminhada", disse.
VENDA A bebê precisa ser submetida a um procedimento cirúrgico, já que a mielomeningocele ocorre quando a coluna vertebral da criança sofre a malformação - as meninges, a medula e as raízes nervosas ficam expostas.A medula sofre esta exposição, geralmente, na região lombar e fica revestida apenas pela camada de pele, formando uma espécie de 'bolha' no local.
No entanto, o custo do tratamento foge do orçamento da família, que vendeu a casa onde vivia por R$ 150 mil na tentativa de bancar a cirurgia estimada em R$ 90 mil, que não é custeada pelo seguro de saúde. O dinheiro da venda do imóvel não é suficiente para o custeio da cirurgia. "Como a casa é financiada, tive que quitar o restante da dívida, em torno de R$ 86 mil. Sobrou R$ 64 mil. Coloquei meu carro à venda por R$ 15 mil e, com esses valores, já arrecadei R$ 79 mil", contabiliza.
Sem o imóvel, o casal e a menina morarão com os avós maternos. "Não vejo a hora da minha filha passar pela cirurgia e voltarmos para Penápolis", destacou.
ABRIGO A mãe de Alice, Sabrina Aparecida Gomes, deve chegar nos próximos dias em São Paulo. Eles ficarão no apartamento de uma ex-patroa de Escalambra, que cedeu um dos quartos para a família. "As doações que recebemos somam mais de R$ 6,6 mil. Iremos usá-las para nosso transporte até o hospital e alimentação. Desde já, agradeço de coração a cada pessoa que colaborou conosco e desejo que Deus dê em dobro toda essa ajuda", agradeceu o pai de Alice, que está desempregado.
A cirurgia para correção da mielomeningocele deveria ter sido feita na menina logo após seu nascimento, mas outros problemas apresentados por Alice impediram que os médicos providenciassem o processo cirúrgico. Além da mielomeningocele, a bebê tem fenda palatina - uma malformação no céu da boca.
Alice também nasceu prematura de sete meses, com o intestino aberto. Por isso, passou por cirurgia para corrigir o problema. Meses depois, desenvolveu hidrocefalia e foi submetida a novo procedimento cirúrgico, onde foi implantada uma válvula no cérebro para drenar o líquido. Aos quatro meses, os médicos observaram que ela estava com problema respiratório e foi feita uma traqueostomia. Depois, a menina ainda teve uma pneumonia bacteriana e uma trombose no corpo do seio esquerdo do coração.
CREMESP Conforme nota enviada pela delegacia do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) em Araçatuba à Folha na última sexta-feira (23), a cirurgia não havia sido feita em Alice devido ao fato da criança "não ter condições clínicas, em função da complexidade do caso". Procurado ontem, o conselho disse apenas que ratifica a nota enviada anteriormente.