A vida do narrador esportivo Deva Pascovicci, morto aos 51 anos na tragédia com o voo da delegação da Chapecoense em 29 de novembro de 2016, virou livro nas mãos da filha Carolina Paschoalon, 21 anos, em seu trabalho de conclusão de curso (TCC) em jornalismo na Unilago, em Rio Preto, e ganhará espaço nas livrarias no próximo ano. "Não tinha ideia do que fazer, com o acidente pensei em não continuar a faculdade, estava meio perdida, mas veio a ideia, uma amiga do meu pai falou: 'porque você não escreve a história do seu pai?'. Conversei com alguns professores e resolvi contar então em um livro reportagem, não falei do acidente, só cito em dois momentos. É uma forma de homenagear ele", conta Carolina.
O projeto inicial, impresso apenas para a banca, tem 80 páginas, mas segundo a filha caçula de Deva, aprofundará mais na versão a ser tornada pública. A apresentação do livro na noite da última quarta-feira, 27, emocionou os presentes logo no início com a reprodução da marcante narração de Deva na defesa do goleiro Danilo nos acréscimos da partida diante do San Lorenzo, da Argentina, na semifinal daquela Copa Sul-Americana. "Ano que vem vou pegar meu projeto e melhorar. Quero aprofundar mais histórias de pessoas, detalhes, a relação dele com a Chape, pois criaram uma relação de amizade", disse.
Devair Paschoalon nasceu em Monte Aprazível, onde teve seu primeiro contato com rádio. Trabalhou em Rio Preto, onde fez parte do time de locutores da Diário FM, mas nunca teve medo de arriscar. Presidente Prudente, Rondonópolis, Cuiabá, Jales. Aliás, de Jales se arriscou a narrar basquete no Pré-Olímpico de 1992, nos Estados Unidos.
"Sempre quis que esse livro inspirasse as pessoas que fazem jornalismo. Não basta ser bom, tem de arriscar pra ser reconhecido, é um campo difícil. Conto como se arriscou, fez coisas que poucas pessoas fariam pra chegar. E demorou muito, não foi do dia pra noite", disse Carolina. "Com 24 anos ele nunca tinha narrado basquete, só futebol em Jales, e chegaram para ele dizendo: 'a gente vai cobrir o Pré-Olímpico em Portland', e ele fez todo o esquema sem experiência. Lá viram quem era ele", emendou.
Deva trabalhou na TV Manchete, SporTV e, depois de voltar ao rádio pela CBN, retornou à TV na Fox Sports, em janeiro de 2016.
Para trazer o lado bom de Deva, Carol também tocou em uma das grandes dificuldades que ele teve na vida, a batalha contrao câncer. "Mostro a forma de superação com que sempre encarou a vida.Em 2006, com câncer no intestino e rim, tava (sic) supermal e logo que saiu do tratamento quis trabalhar. Essa forma de superação me deixou bastante impressionada, além da forma que tratava as pessoas, com carinho e generosidade", conta.
Outra história na apuração que chamou a atenção foi o fato de Deva doar sua bicicleta a um companheiro de trabalho, ainda em Rio Preto. "Ele comprou uma bike para trabalhar, mas deu a outro amigo que não tinha dinheiro para o passe de ônibus. Ele tinha e a bike era luxo naquele momento."
Deva era casado com Rosana Bernardes e pai também de Mariana. A quinta-feira, 28, foi da lembrança da perda e de saudade. "É complicada, não tem como não lembrar. É triste, toda a angústia, tinha poucas notícias, mas aprendi lembrar dos momentos bons. Não vou falar dele com tristeza, mas com saudade."
Carolina se forma neste ano, é estagiária do site G1, mas apesar do jornalismo, não virá para o lado do esporte. "Acho muito legal, mas não para mim. Todo mundo que faz, ama, é algo muito forte. Sempre quis TV, mas gosto muito do jornalismo web", finalizou.
(Ozair Júnior - Diário da Região)