Santuário da região é destaque na preservação de animais
Santuário da região é destaque na preservação de animais
Publicado em: 15 de maio de 2013 às 14:14
Francisca, Rebeca e Talia não estão no Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira apenas para divertir visitantes nos fins de semana ou deixar mais interessantes as aulas de educação ambiental. As fêmeas de lobo-guará, onça-pintada e cervo-do-Pantanal, respectivamente, compõem um amplo acervo com 46 espécies, entre as quais sete em extinção, que circulam ou viveram nas matas do Noroeste paulista e se encontram resguardadas para pesquisa, reprodução, manejo e até possível reintrodução na natureza. É a arca de Noé caipira.
No passado, questão de 100 anos ou um pouco mais, esses animais, assim como muitos outros, eram comuns nas matas da região e em diversas áreas no Estado de São Paulo. Mas pouco a pouco, desapareceram parcial ou completamente de seus habitats, sobretudo por ações coordenadas exclusivamente pelo homem, como o avanço da agricultura nas áreas de preservação, desmatamento, incremento da infra-estrutura e imponentes construções.
No caso regional, a obra da usina hidrelétrica Três Irmãos causou grande impacto no meio ambiente e motivou a criação do Centro de Conservação, ainda no fim dos anos 1970, pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp). No começo, sua função era mais lúdica, ou seja, funcionava basicamente como zoológico. Com o correr dos anos, no entanto, o trabalho de pesquisa foi ampliado e intensificado. O novo foco ajudou o projeto a atingir os patamares atuais, com destaque para o cervo-do-Pantanal.
O animal, um dos maiores mamíferos brasileiros, espelha os bons resultados conquistados. Nos últimos 13 anos, nasceram 34 filhotes - quase três a cada ano. Vale lembrar que ele está em extinção e dificilmente é encontrado nas reservas paulistas. Para crescer sadio, recebe toda a atenção e passa por um tratamento especial da equipe de profissionais, com direito a uma técnica de aleitamento artificial. Em pequenas mamadeiras, são alimentados com leite de cabra. Normalmente, vivem em várzeas.
Correm risco de ser extintos por fatores como a formação de reservatórios, caça e disseminação de doenças por animais domésticos. O programa desenvolvido pela Cesp inclui medidas como a identificação e proteção das populações remanescentes da bacia do Alto Paraná. A onça-pintada também é outro caso de sucesso, embora a reprodução seja evitada atualmente por dois motivos: os cativeiros do País contam com exemplares suficientes para desenvolver seus trabalhos e a reintrodução ainda não atinge seu objetivo.
No meio ambiente, o filhote fica dois anos somente com a mãe para aprender a caçar e se virar sozinho. Em um zoológico, não se torna independente. O centro de Ilha Solteira participa de um programa nacional que é referência e domina a técnica de reprodução in vitro das onças. Também se destaca a criação de jacaré-do-papo-amarelo, com 20 novos exemplares a cada ano. Esse animal habita as florestas tropicais e vive até 50 anos.
O gerente de restauração e conservação do projeto, João Henrique Pinheiro Dias, afirma que a reserva de espécies, principalmente as raras e que correm o risco de desaparecer, é relevante por uma série de motivos. “Você sabe o DNA, sua procedência e onde estão machos e fêmeas.” Segundo o especialista, ter controle sobre essas informações é vital para qualquer trabalho sério.
Ilha Solteira integra um amplo trabalho nacional, com a participação de órgãos governamentais e independentes. Eles desenvolvem ações conjuntas para pesquisa, informação e conhecimento de determinados animais. “Isso é fundamental para a reprodução. É mais fácil definir para aonde eles vão e escolher as melhores alternativas”, diz.
Não raro, o centro é consultado e cede bichos para zoológicos que necessitam de machos ou fêmeas para formar casais em seus acervos. Se necessário, pode oferecer ainda amostras de DNA e até de sêmen. Segundo Dias, está em estudo recolocar no meio ambiente cervos-do-Pantanal e mutuns. Não há data, porém, para colocar a medida em prática.
Sete espécies animais em risco de desaparecer
O acervo do Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira é formado por 240 animais, de 46 espécies. Esses exemplares viveram nas matas da região. Sete deles estão com risco de extinção: jacaré-do-papo-amarelo (30 unidades), mutum (três), lobo-guará (dois), jaguatirica (dois), cervo-do-pantanal (três), onça pintada (dois) e tamanduá-bandeira (dois).
A maioria dos animais fica presa em jaulas em ampla área verde, composta por 18 hectares e dezenas de árvores, muitas das quais centenárias e de grande valor. Nem todo dia tem visita no centro. Normalmente, ocorre nos fins de semana. A exceção é aberta para estudantes de toda a região.
Eles frequentam o lugar, de forma monitorada, para aprender noções de educação ambiental e a história dos próprios animais. A cada ano, são pelo menos 33 mil visitantes. O Centro de Conservação fica na avenida Brasil, s/nº, zona norte de Ilha Solteira. É aberto aos sábados e domingos, das 9h às 16h.
(Raul Marques - Diário da Região)
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