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Bebê prematuro de 15 dias sobrevive com força de gigante

Bebê prematuro de 15 dias sobrevive com força de gigante

Publicado em: 12 de junho de 2013 às 09:34

O pezinho de Manuela passeia espaçoso pela mão da mãe Daiane Manzotti. Minúsculo comparado à palma da mão, ele mede menos de cinco centímetros. É tão pequeno quanto o coração da menina que, com apenas 15 dias de vida, já se recupera de uma cirurgia cardíaca. Manuela e seu irmão Hugo nasceram antes do tempo, com 26 semanas de gestação. Apesar de pequeninas, as perninhas de Manu não param de se mexer dentro da incubadora. “Ela é uma guerreira!”, comenta a mãe orgulhosa. O desespero da pequena para deixar a barriga era tanto que, mesmo com a mãe medicaa para segurar os gêmeos por mais tempo, ela arrumou um jeito de colocar um dos pés para fora. “Eu estava com muitas dores, o médico me examinou e disse que não tinha mais jeito porque ela já estava com o pé praticamente saindo do útero. Queria nascer de todo jeito”, conta a mãe que depois do susto, está aprendendo a encontrar alegria na situação. Manuela veio ao mundo com 850 gramas e o irmão Hugo com 860. Foram internados na UTI pediátrica, mas, após exames diários, os médicos constataram que a menina estava com uma cardiopatia congênita. Chamada PCA (Persistência do Canal Arterial), a cardiopatia é a de maior incidência entre bebês prematuros. O cirurgião cardiovascular pediátrico do Hospital de Base, Ulisses Croti, explica que o problema vem da má formação do coração. “Quando um bebê nasce no tempo certo, o canal arterial (que é responsável pela respiração do feto apenas durante gestação) se fecha. Nos prematuros, ele não tem tempo para se fechar, contrair e, então, o pulmão do bebê fica inundado de sangue”, explica ele. A cirurgia para corrigir o problema dura trinta minutos e é feita através de um corte de apenas um centímetro nas costas do bebê. Como o prematuro ainda tem a imunidade baixíssima e os sistemas mal formados, o procedimento apresenta riscos. “A anestesia geral e o fato de que os órgãos do prematuro não tiveram tempo de amadurecer são as nossas preocupações. Eles ainda não têm preparo no pulmão, no sistema hepático e no sistema imunológico para uma cirurgia”, pontua Croti. Para os pais, a agonia é grande. “Foi tudo muito rápido. Eles viram o problema e já marcaram a cirurgia. Nós viemos correndo, mas ela já estava no centro cirúrgico. Entregamos para Deus”, conta o pai Danilo Felício. O susto foi o segundo de uma gestação conturbada. Manuela e Hugo são os primeiros filhos de Daiane e Danilo, moradores de Mirassol. A gravidez, apesar de querida, não estava planejada para agora. “A gente queria para este ano, mas já engravidei no ano passado. Ficamos muito felizes mesmo assim”. Daiane, assim como a filha, foi apressada ao nascer. “Meu pai conta que eu pesava menos de 800 gramas e cabia numa caixa de sapatos e naquela época nem tinha tantos recursos como tem hoje”. Pelo seu próprio histórico e pelo fato de esperar gêmeos, ela já imaginava que os bebês viessem antes de nove meses. “Pensei que ele fossem nascer de sete, oito meses, mas 26 semanas são só seis meses de gestação!”. Os médicos do Hospital de Base deixaram Daiane internada por duas semanas, para tentar atrasar o parto, mas, no dia 28 de maio, os gêmeos vieram ao mundo. Pela prematuridade, a mãe precisou deixar os filhos no hospital e voltar para casa de mãos vazias. “Nem pegar eles no colo eu pude. É a primeira coisa que quero fazer”. Foi difícil entender que era a melhor opção e, nessa época, a cardiopatia de Manu ainda nem havia sido diagnosticada. “Eu chorava muito. Queria levar eles comigo. Não aceitava. Fui aceitando aos poucos e, depois que soube do problema dela, vi que o melhor é eles estarem no hospital mesmo”, desabafa a mãe. “É muito difícil. A gente está se apegando nas orações”, o pai sofre igual. Todos os dias, Daiane e Danilo se revezam para passar pelo Hospital de Base ao menos duas vezes. A mãe vai à tarde, para tirar o leite que é dado para os gêmeos por sonda. Eles tem certeza que os pequenos percebem a presença. “Às vezes eles estão chorando, agitados e quando a gente conversa eles param. Quando fazemos carinho, eles percebem, vão ficando tranquilos”, diz Daiane. Eles falam da surpresa de pensar que um ser tão pequenino é tão guerreiro. “Ela é muito forte. Superou tudo e vai ficar bem”, planeja o pai. O médico Ulisses garante que Manu terá uma vida normal. “Geralmente, em 95% dos casos, as crianças que tem cardiopatia e passam por cirurgia, terão uma vida normal. Vão poder brincar, andar de bicicleta e chegar à universidade. Isso é que é importa”, comenta ele. Desde 2010, a equipe do HB já operou 130 recém-nascidos e prematuros. Outras 126 crianças menores de um ano também passaram por cirurgias por cardiopatias diversas. Nesse operíodo, no total, entre recém-nascidos, e crianças maiores de um ano, foram 619 cirurgias. Em 11 anos, foram 3,5 mil cirurgias. Manu e Hugo ainda ficarão mais três meses no hospital. Os pais estão aprendendo a superar a agonia, por essa boa previsão do futuro. “É como se a gestação tivesse durado nove meses. Seis meses até o nascimento e mais três até eles irem para casa. Mas estamos pensando na alegria que vai ser quando eles chegarem. Só queremos que passe logo”, diz a mãe. Drama de mãe virou ação social O Hospital de Base de Rio Preto celebra hoje o Dia de Conscientização da Cardiopatia Congênita, data criada por uma mãe que reverteu a tristeza em ação social. Márcia Adriana Saia Rebordões, presidente da Associação de Assistência a Criança Cardiopata Pequenos Corações, perdeu o filho aos 3 anos de idade, por um tipo de cardiopatia rara. Thiago tinha uma síndrome difícil de ser curada, descoberta ainda na gestação. “Eu soube durante um ecocardiograma feito na gestação e ele já fez a primeira cirurgia com dois meses de vida”, conta Márcia. Depois dessa, Thiago ainda passou por uma segunda cirurgia, mas morreu no ano de 2009. A mãe juntou forças e hoje vive em busca para ajudar famílias na mesma situação. “Eu sou advogada de formação, mas hoje minha vida é ajudar, tentar formular leis, projetos que beneficiem o cardiopata e suas famílias. Na época que perdi meu filho, percebi que o assunto não era muito falado e havia pouca informação”. A obrigatoriedade do teste do coraçãozinho é uma das batalhas. “A gente quer orientar os pais sobre a importância de exigir que o teste seja feito. Por ele, a mãe pode diagnosticar a cardiopatia e tratá-la”, explica Márcia. O dia de hoje, para ela, é uma forma de conscientização. “Nós queremos divulgar o problema e orientar as pessoas sobre ele”. No Hospital de Base, médicos, enfermeiros e demais funcionários vestirão vermelho para marcar a data. O Hospital de Base foi o primeiro do interior a realizar um transplante de coração infantil, como maneira de curar uma cardiopatia. O primeiro caso foi em em 2010. O segundo foi neste ano, com a cirurgia de David Belei, na época com um ano e nove meses. O coração transplantado foi buscado pelo médico Ulisses Croti com o helicóptero Águia da PM, na cidade de Botucatu, mais de 300 km de Rio Preto. David continua internado no HB, mas passa muito bem. Ulisses Croti alerta sobre a importância de se diagnosticar o problema, principalmente em recém-nascidos. “A cardiopatia pode ser diagnosticada nos primeiros meses de vida ou depois de anos. Quando o recém-nascido já apresenta os sintomas, é sinal de que o problema é grave e precisa ser tratado”. (Daniela Penha – Diário da Região)

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