IML começa a fazer perícia com tomografia em pessoas mortas
IML começa a fazer perícia com tomografia em pessoas mortas
Publicado em: 04 de junho de 2013 às 09:12
O Instituto Médico Legal do Estado de São Paulo (IML) deu um salto tecnológico, acompanhando os grandes centros periciais mundiais, com a implantação do método de Tomografia Computadorizada Multi-Detectores.
O Núcleo de Radiologia do IML, órgão vinculado à Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC), já colocou à disposição de todo o Estado esta modalidade, com previsão de aumento gradual na demanda, visando sempre alta qualidade pericial em atendimento ao sistema judiciário e policial, conforme informa o médico radiologista e diretor técnico do setor, Sérgio José Zeri Nunes. O objetivo inicial é de auxiliar as perícias em casos complexos que necessitem detalhes técnicos e investigação mais profunda. Adquirido pelo governo estadual da alemã Siemens, por meio de licitação, o equipamento de tomografia computadorizada multi-detectores foi instalado no IML central, na Capital, no final de 2012. Após fase de desenvolvimento de protocolos e treinamento de pessoal com a empresa fornecedora, iniciou seu funcionamento no início deste ano.
O sofisticado Tomógrafo Computadorizado Siemens Emotion 16 ainda não substitui completamente o método necroscópico tradicional, no qual as cavidades corporais são abertas, mas essa possibilidade “já está em estudos em alguns países, principalmente na Suíça”, revela Nunes. “O exame pelo tomógrafo pode ainda auxiliar perícias em outras áreas, como a tanatologia, traumatologia, antropologia e odontologia-legal”, fala o diretor. É um aparelho similar ao usado para exames em pessoas vivas, disponíveis em alguns hospitais, para detectar fraturas, doenças, análise nos órgãos e sistemas. Já seu uso na medicina forense apresenta enfoque diferente, tendo o objetivo de análise dos mecanismos traumáticos, pesquisa de corpos estranhos, mesmo de mínimas dimensões, pesquisa de fraturas, inclusive as não detectáveis em necropsia convencional, auxílio em identificação e antropologia, favorecendo a pesquisa da causa da morte e dos mecanismos que levaram ao óbito. “Virtópsia” O termo tem sido utilizado por grupos científicos para designar as necropsias virtuais, ou minimamente invasivas, realizadas predominantemente por métodos de imagem. Apesar de já existirem vários estudos sustentando esta modalidade, a corrente científica majoritária considera os métodos de imagem como importantes métodos suplementares, mas não substitutivos no momento atual. O Instituto Médico-Legal e a Universidade de São Paulo são os pioneiros na utilização da tomografia post-mortem na América do Sul, um com enfoque em mortes violentas e outro para mortes naturais. Pela lei, o IML realiza as necropsias em casos de morte por causas externas (violentas) ou suspeitas. Já as necropsias em morte natural são realizadas pelo Serviço de Verificação de Óbito da Faculdade de Medicina da USP. No entanto, se a autoridade policial suspeitar de algo num caso de aparente morte natural, o corpo é enviado para procedimento necroscópico no Instituto Médico-Legal, esclarece Sérgio Nunes. A Sala de Tomografia, dentro do necrotério, onde se faz a necropsia, tem suas paredes baritadas, permitindo a realização dos exames dentro dos padrões de segurança em relação às radiações. O corpo é colocado dentro de uma capa plástica e deitado no tomógrafo. Em seguida, passa pelo “gantry” do aparelho, que tem forma circular e emite ondas de raios-X que atravessam o corpo e atingem os detectores, que obtêm as imagens que são codificadas em formato digital e visualizadas em terminais, fornecendo análise detalhada do cadáver. A máquina é operada por um técnico com supervisão do médico radiologista. Numa antessala, separada por um vidro com proteção de chumbo, há uma tela de computador que capta todas as imagens geradas pelo tomógrafo. “A somatória dessas imagens permite a reconstrução em qualquer eixo e também tridimensional”, explica o radiologista Sérgio Nunes. Tridimensional Os recursos técnicos da tomografia computadorizada são muitos, conforme explica o radiologista. “É mais preciso, tem imagem mais definida, permite a visualização em vários eixos, inclusive tridimensional, fornecendo mais noção de profundidade do que o Raio-X”. Apesar de ambos serem baseados na mesma fonte de radiação ionizante, a tomografia é uma “evolução brutal em relação ao Raio-X”, avalia Nunes. A imagem tridimensional (3D) permite, por exemplo, que se observem na tela do computador os órgãos internos ou um crânio em vários ângulos, captando detalhes que passariam despercebidos a olho nu. Numa linguagem técnica, a imagem pode ser “rotacionada” (girada) segundo o interesse de visualização. É uma imagem “em todos os eixos” que o Raio-X fornece: axial (corte transversal de imagem), coronal (cortes horizontais) e sagitais (vertical). “Os cortes axiais podem ser reconstruídos em outros eixos”, diz o diretor, para permitir uma angulação perfeita do que se pretende observar. “No futuro, se pudermos adquirir uma impressora 3D, poderemos até fazer um molde do busto ou outra parte do corpo”, diz, esperançoso, o diretor técnico do Núcleo de Radiologia. O molde seria útil a juízes, promotores e advogados em tribunais durante julgamentos criminais. Na Sala de Laudos, fora do necrotério, fica a “estação de trabalho” (workstation), que é um terminal para o médico analisar minuciosamente todas as imagens, e realizar as reconstruções necessárias. Em outro computador anexo, ele redige e imprime o laudo pericial. Somente o médico radiologista tem acesso à estação de trabalho.
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